-Física
Ciência cria
alternativas e prepara o mundo para mudanças no clima
Entre os objetivos
estão a redução de gases do efeito estufa e energia mais limpa
O Globo
RIO — Da verificação de que a ação humana está alterando o equilíbrio da
Terra a possíveis medidas de adaptação às mudanças climáticas, a ciência ocupa
um papel central nas discussões sobre o meio ambiente. Enquanto estudos sobre o
passado do planeta e sua atual situação servem de base para modelos de previsão
do que o aquecimento global pode provocar no clima, nos laboratórios um
exército de cientistas busca alternativas para reduzir a emissão de gases do
efeito estufa, gerar energia de forma mais limpa e sustentável ou mesmo saber
como a Humanidade poderá enfrentar os inevitáveis desastres que estão por vir
com o aumento da frequência e da intensidade de eventos extremos como furacões,
tempestades e secas.
— Uma conferência das Nações Unidas, como a Rio+20, acaba sendo muito
pautada pela questão política, mas não há qualquer caminho na discussão que não
esteja amparado pela ciência e pela inovação — lembra Jerson Lima Silva,
diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro
(Faperj), que deverá destinar cerca de 20% de seu orçamento de R$400 milhões a
pesquisas ligadas ao meio ambiente.
Avanço no conhecimento que vira aplicações práticas
No Rio, diversas instituições de ponta participam desse esforço da
comunidade científica mundial. Uma das mais destacadas é a Coppe/UFRJ. Durante
a Rio+20, ela será o único centro de ensino e pesquisa no Parque dos Atletas,
próximo ao local da conferência oficial, no Riocentro, onde uma exposição interativa
apresentará 12 projetos desenvolvidos com instituições parceiras, como um
modelo da usina de geração de eletricidade a partir das ondas do mar instalada
no Porto de Pecém, no Ceará, e métodos para reutilização de resíduos urbanos,
agrícolas e industriais na fabricação de biocombustíveis e biomateriais. A
usina de ondas, por exemplo, foi criada no gigantesco Laboratório de Tecnologia
Oceânica (LabOceano) da Coppe na Ilha do Fundão, um dos poucos equipamentos do
tipo no mundo e que tem entre seus principais clientes justamente a indústria
do petróleo.
— O que a Coppe faz é a fronteira entre a ciência e a tecnologia — diz
Luiz Pinguelli Rosa, diretor-geral da instituição. — Mas não basta somente o
avanço do conhecimento. Só com a ciência, sem aplicação prática, os problemas
não são resolvidos. Então, é preciso combinar teoria e técnica, na ideia de uma
ciência que sirva à Humanidade.
Já na época da Rio 92, a Coppe começou a se debruçar sobre a questão das
emissões de gases-estufa na geração de energia. Então, durante evento paralelo
à Cúpula da Terra, cientistas levantaram dúvidas quanto à "limpeza"
das hidrelétricas, fonte de mais de 85% da eletricidade consumida no Brasil.
Oito anos depois, o pesquisador Marco Aurélio dos Santos comprovou que os reservatórios
de usinas emitem gases do efeito estufa, revelando que eles se originam de um
processo relacionado à decomposição de matéria orgânica por bactérias presentes
na água. De lá para cá, novos estudos mostraram que, na maioria dos casos, as
termelétricas emitem gases duas a três vezes mais que as hidrelétricas
equivalentes, mas há casos em que as emissões das térmicas chegam a ser 100 a
150 vezes superiores. A metodologia aperfeiçoada pela Coppe também foi adotada
por grupos de pesquisa dos EUA e do Canadá e hoje orienta a decisão sobre novos
empreendimentos, que levam em conta a razão entre a superfície coberta pelo
reservatório e a capacidade de geração da usina.
— Diante do peso das hidrelétricas na matriz energética brasileira, esse
tipo de levantamento se mostrou fundamental para a produção dos inventários das
emissões do Brasil, números que são usados pelo país na mesa de negociações
climáticas — conta Pinguelli.
As negociações do clima, no entanto, também devem levar em conta a
capacidade das fontes alternativas de energia de substituir os combustíveis
fósseis emissores de gases-estufa. Mais uma vez, os cientistas colaboram com o
desenvolvimento dessas opções nos laboratórios, pesquisas para aumento da
eficiência do uso da energia que está sendo gerada e seus reais impactos na
mitigação das mudanças climáticas, destaca Lima Silva, da Faperj.
— Conferências como a Rio+20 também pedem que as decisões sejam tomadas
com os pés no chão — defende. — Não adianta estabelecer metas inalcançáveis de
redução das emissões, e neste ponto a ciência ainda pode contribuir muito com
posições mais independentes e menos emocionais. Não se pode impedir que os
países busquem seu desenvolvimento e crescimento econômico com melhoria da
qualidade de vida da sua população, mas esse processo não poderá ser do jeito
que foi no passado. E, no fim, é a ciência que vai buscar as ferramentas e
opções para isso acontecer de forma mais sustentável.
URL: http://glo.bo/MwszMW
Notícia publicada em 10/06/12 - 9h39Atualizada em 10/06/12 -
10h59Impressa em 05/07/12 - 22h06
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