domingo, 5 de agosto de 2012

RIO +20

-Física
Conheça os princípios e as polêmicas da Rio+20
Economia verde, erradicação da pobreza e governança ambiental são os temas centrais da conferência
Flávia Milhorance
RIO — Quarenta anos depois da Conferência de Estocolmo e duas décadas após a Rio 92, a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável (Rio+20) será realizada no Rio de Janeiro entre os dias 13 e 22 de junho de 2012. A proposta brasileira de sediar a Rio+20 foi aprovada pela assembleia geral das Nações Unidas, em sua 64ª Sessão, em 2009. E a ideia principal é exatamente revisitar as conferências de meio ambiente já realizadas com o objetivo de avaliar os avanços e propor novas metas para o desenvolvimento sustentável.
A Rio+20 será composta por três momentos. Nos primeiros dias, de 13 a 15 de junho, está prevista a III Reunião do Comitê Preparatório, no qual se reunirão representantes governamentais para negociações dos documentos a serem adotados na conferência. Em seguida, entre 16 e 19 de junho, serão programados eventos com a sociedade civil, que, assim como em 1992, ocupará o Aterro do Flamengo, a Cúpula dos Povos. De 20 a 22 de junho, ocorrerá o Segmento de Alto Nível da Conferência, quando participarão chefes de estado e de governo dos países-membros das Nações Unidas.
Apesar do grande número de confirmações, especialistas vêm sinalizando para um possível esvaziamento da conferência, já que chefes de estado e de governo de países desenvolvidos, capazes de tomarem decisões efetivas sobre o desenvolvimento sustentável podem não comparecer. Já praticamente descartaram a presença o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, a chanceler alemã, Angela Merkel, e o primeiro-ministro britânico, David Cameron.
Há dois temas principais a serem discutidos durante a conferência: a economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza; e a estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável. Em termos gerais, a economia verde defende que investimentos públicos e privados voltados para o crescimento econômico leve em consideração a redução de emissões de carbono e da poluição. Ela inclui processos relacionados ao combate das mudanças climáticas e visa reverter tendências insustentáveis, como o consumismo e a crescente desigualdade, a contaminação dos ecossistemas e do próprio corpo humano por substâncias químicas.
Na sociedade civil as opiniões se dividem: uma parte acredita que o conceito, mesmo com limitações, pode trazer resultados interessantes, enquanto outra parte se coloca totalmente contra a economia verde. O grupo de articulação da Cúpula dos Povos, por exemplo, já se posicionou formalmente contra a implementação da economia verde. Eles afirmam que o conceito alimenta “o mito de que é possível o crescimento econômico infinito”. Ainda de acordo com o grupo, este modelo econômico não diminui o extrativismo de combustíveis fósseis nem altera os atuais padrões de consumo e de produção industrial.
Já as discussões sobre a estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável apontam para a reforma da Comissão sobre Desenvolvimento Sustentável (CDS). O objetivo, segundo a ONU, é reforçar o monitoramento da implementação da Agenda 21, adotada durante a Rio 92. A Cúpula dos Povos, por sua vez, acredita que isto enfraqueceria a reafirmação dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), cujo prazo termina em 2015, e até agora, nenhum país conseguiu atingir integralmente suas metas. Além disso, a CDS seria utilizada para promover a economia verde.
Quanto à reforma das instituições ambientais, vários países têm apontado a importância de que sejam fortalecidas as capacidades de trabalho do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), aumentando a previsibilidade dos recursos disponíveis para que essa instituição apoie efetivamente projetos em países em desenvolvimento. Segundo a ONU, a reforma da estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável deverá observar o equilíbrio entre as questões sociais, econômicas e ambientais.
Desde 2010, reuniões do Comitê Preparatório (conhecidas como “PrepComs”) vem sendo realizadas. Além das “PrepComs”, diversos países têm realizado “encontros informais” para ampliar as oportunidades de discussão dos temas da Rio+20. O processo preparatório é conduzido pelo subsecretário-geral da ONU para Assuntos Econômicos e Sociais e Secretário-Geral da Conferência, Embaixador Sha Zukang, da China.Os Estados-membros, representantes da sociedade civil e organizações internacionais tiveram até o dia 1º de novembro para enviar ao Secretariado da Conferência propostas por escrito. A partir dessas contribuições, o secretariado está preparando um texto-base para a Rio+20, chamado “rascunho zero”.
Desde o início do ano, uma série de reuniões estão sendo realizadas em Nova York para definir o rascunho zero. O documento já teve diversas alterações devido à dificuldade de se chegar a um consenso entre os negociadores. Ele começou com 19 páginas, chegou a 278 e foi para 150 na rodada de negociações de maio, que seria a última delas. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, declarou que na impossibilidade de se chegar a um consenso sobre os 26 pontos do documento, a prioridade para as negociações durante a Rio+20 deve ser o estabelecimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Ele anunciou ainda o lançamento de uma plataforma digital para acompanhar a implementação dos Objetivos do Milênio, e que ela acolherá também dados e iniciativas de países sobre os futuros Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
— Ela vai nos ajudar a monitorar nossos esforços, inclusive os compromissos assumidos no Rio – disse Ban a respeito da plataforma, implementada com recursos de doações do Canadá, da Coreia do Sul e da Nigéria — explicou o secretário-geral.
Apesar das muitas divergências sobre o texto-base da Rio+20, especialistas cobram maior ousadia, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, disse que o governo brasileiro está satisfeito com o documento.

URL: http://glo.bo/LB6M6h
Notícia publicada em 7/06/12 - 11h07Atualizada em 7/06/12 - 11h13Impressa em 05/07/12 - 22h10

Nenhum comentário:

Postar um comentário